Crônica: Americanópolis D’Oeste; O Conto Perfeito da Cidade Imperfeita

Crônica: Americanópolis D’Oeste; O Conto Perfeito da Cidade Imperfeita
Foto: Criação de I-A
americanopolis Crônica: Americanópolis D’Oeste; O Conto Perfeito da Cidade Imperfeita
Foto: Criação de I-A

Onde a realidade sangra em silêncio, e a saúde pública é exportada junto aos doentes — tudo sob o olhar poético dos mandatários e nomeados

Na cidade de Americanópolis D’Oeste, a perfeição é um mantra recitado em cada esquina. Tudo corre bem, dizem os que governam. Os romances escritos pelos poetas locais falam de amores impossíveis e esperanças eternas. Mas, na vida cotidiana, há cadeiras quebradas nas unidades de saúde que resistem ao tempo e ao abandono, aguardando mais de trinta dias de cobrança insistente de um vereador para serem substituídas.

Enquanto isso, outro vereador, igualmente alinhado à base governista dessa cidade reluzente, se vê obrigado a formalizar requerimentos para descobrir o paradeiro dos veículos destinados ao transporte de doentes para outras cidades. Pois, claro, na cidade do romance, a solução para a saúde pública não está em curar dentro de seus limites, mas em exportar os enfermos, enviá-los para onde os problemas não são mais responsabilidade do idealismo governante.

E segue a narrativa, impecável como um livro bem editado. A cidade está em ordem, proclamam os discursos. Aqui, os políticos do “puder” amam o amor, mas não a pessoa. Para eles, o importante não é o indivíduo, mas a ideia abstrata de um governo que desfila sob holofotes, indiferente aos murmúrios das filas intermináveis dos postos de saúde. O romantismo persiste, porém, nas palavras, nos pronunciamentos grandiosos e nos sorrisos estrategicamente ensaiados.

Mas há quem veja, quem saiba, quem se recuse a fingir. E, talvez, um dia, a verdade estilhace esse conto dos contos e encontre espaço para ser escrita fora das páginas da ficção oficial. Até lá, resta apenas a esperança de que, em algum momento, o silêncio se torne insuportável demais para ser mantido.

Nota: Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com pessoas, fatos ou situações da vida real é mera coincidência.

Por Jorge Ramos  jornalista, comentarista político, articulista, consultor financeiro e securitário. Graduado em Administração/Gestão Pública e pós-graduado em Direito Constitucional


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Jorge Ramos

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