Negros sempre foram protagonistas; confundir pautas religiosas com raciais e impor narrativas de vitimismo não é consciência, é intolerância.
20 de Novembro: Consciência Negra e o Protagonismo Histórico.
O significado do 20 de novembro
O Dia da Consciência Negra é uma data de reflexão sobre a luta contra o racismo e a valorização da cultura afro-brasileira. Mais do que memória, é um convite para reconhecer o papel fundamental que homens e mulheres negros tiveram na construção de um Brasil moderno e plural.
No entanto, muitos movimentos sociais têm confundido o preconceito religioso com o preconceito racial, criando uma narrativa única que mistura fé e identidade. Essa confusão gera intolerância e reforça um excesso de vitimismo que não constrói consciência, mas sim obrigação. A verdadeira Consciência Negra não pode ser imposta — ela deve nascer do reconhecimento das conquistas, da valorização da história e da celebração do protagonismo negro.
Protagonistas negros antes e depois das cotas (em ordem cronológica)
Zumbi dos Palmares (1655–1695) – Líder do Quilombo dos Palmares, símbolo máximo da resistência contra a escravidão.
Luís Gama (1830–1882) – Advogado, jornalista e poeta, libertou centenas de escravizados por meio de ações jurídicas.
Maria Firmina dos Reis (1825–1917) – Primeira romancista negra do Brasil, autora de Úrsula, obra pioneira contra a escravidão.
André e Antônio Rebouças (século XIX) – Engenheiros e intelectuais negros, pioneiros em grandes obras de infraestrutura e defensores da abolição da escravidão.
Machado de Assis (1839–1908) – Considerado o maior escritor brasileiro, fundador da Academia Brasileira de Letras.
Nilo Peçanha (1909) – Primeiro presidente negro do Brasil, criador das escolas de aprendizes artífices.
Heráclito Carneiro Ribeiro (1931) – Primeiro presidente negro do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, jurista baiano e fundador da Faculdade de Direito de SC.
Antonieta de Barros (1930s–1950s) – Primeira deputada negra, defensora da educação pública e da emancipação feminina.
Enedina Alves Marques (1945) – Primeira engenheira negra do Brasil, pioneira em uma área dominada por homens brancos.
Grande Otelo (1915–1993) – Ator e humorista, ícone do cinema e da televisão brasileira.
Carolina Maria de Jesus (1914–1977) – Escritora, autora de Quarto de Despejo, retratando a vida na favela.
Milton Santos (1926–2001) – Geógrafo de renome mundial, premiado internacionalmente, referência no estudo da globalização.
Edson Arantes do Nascimento – Pelé (1940–2022) – O maior jogador de futebol da história, símbolo global do esporte e da excelência negra.
Benedita da Silva (1990s–2000s) – Primeira senadora negra do Brasil e ex-governadora do Rio de Janeiro.
Joaquim Barbosa (2003–2014) – Primeiro ministro negro do Supremo Tribunal Federal e presidente da Corte.
Marta Vieira da Silva (2000s–) – Eleita seis vezes melhor jogadora de futebol do mundo, ícone feminino do esporte.
Daiane dos Santos (2003–) – Primeira ginasta brasileira campeã mundial, referência internacional.
- Entre várias personalidades no Brasil e no mundo.
O debate sobre cotas e militância
Defensores das cotas: veem como reparação histórica e instrumento de inclusão.
Críticos das cotas: argumentam que podem transmitir a ideia de que negros só avançam com ajuda, o que seria uma forma de inferiorizar.
Realidade: a desigualdade no Brasil é sobretudo social e econômica, atingindo negros de forma mais intensa, mas também afetando muitos brancos pobres.
Por que os movimentos se prendem à escravidão?
Grande parte dos movimentos sociais ainda se concentra em narrativas ligadas à escravidão e à figura de Zumbi dos Palmares. Embora Zumbi seja um símbolo legítimo de resistência, essa ênfase exclusiva pode gerar dois efeitos:
Redução da identidade negra ao sofrimento: como se a história fosse apenas dor e injustiça.
Apagamento das conquistas: líderes, intelectuais, juristas, engenheiros, escritores, atletas e presidentes negros que construíram o Brasil ficam em segundo plano.
Sair do vitimismo pode doer, mas é necessário. Não se pode enterrar um passado de glória em detrimento de um sentimento de injustiçado. A verdadeira consciência negra deve ser também uma celebração de grandes feitos e contribuições.
Reflexão editorial
O 20 de novembro deve ser um dia de celebração do protagonismo negro, não de vitimismo.
Zumbi, Luís Gama, Maria Firmina, André Rebouças, Machado de Assis, Nilo Peçanha, Antonieta de Barros, Enedina Alves, Milton Santos, Pelé, Benedita da Silva, Joaquim Barbosa, Marta e Daiane dos Santos provam que negros já foram líderes, intelectuais, engenheiros, escritores, atletas e juízes em épocas muito mais adversas.
O desafio atual é construir um Brasil melhor, forte e próspero, onde a luta não seja por rótulos ou retóricas, mas por oportunidades reais para todos.
Consciência não é imposição. Quando se força narrativas de vitimismo ou se confunde religião com raça, o efeito é intolerância. A verdadeira consciência é liberdade, protagonismo e igualdade — como já prevê o artigo 5º da Constituição: “Todos são iguais perante a lei”.
Conclusão
O Dia da Consciência Negra é uma oportunidade para reconhecer que o povo negro sempre foi protagonista na política, na ciência, na educação, na literatura, no esporte e na Justiça. Não precisamos de narrativas que inferiorizem, mas sim de uma luta coletiva por um Brasil mais justo, inclusivo e próspero.
Por Jorge Ramos – Jornalista, comentarista político, articulista e cronista, consultor financeiro e securitário. Graduado em Administração/Gestão Pública e pós-graduado em Direito Constitucional.
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