Entre o mutirão de saúde e o espetáculo esportivo, Americana revela suas prioridades: 286 exames de PSA contra milhares de curtidas nas redes sociais
No último mutirão de exames de PSA realizado em Americana, apenas 286 homens compareceram às unidades de saúde. O número é alarmante quando comparado ao universo potencial: em uma cidade de 247 mil habitantes, cerca de 116 mil são homens, e pelo menos 46 mil estão na faixa etária que deveria estar atenta ao Novembro Azul e à prevenção do câncer de próstata. A discrepância entre necessidade e adesão escancara um problema de comunicação e de prioridades.
É importante reconhecer que todas as ações — sejam elas esportivas, culturais ou de saúde — têm seu papel na promoção da conscientização. O tradicional jogo de futebol, em sua 14ª edição, mobiliza a comunidade, fortalece laços e também carrega um apelo social legítimo. Não se trata de desmerecer o esporte ou sua força cultural. Mas aqui, o que se viu foi a hipocrisia da sociedade americanense imperando: enquanto o mutirão de saúde passou quase despercebido, sem apoio visível das lideranças políticas ou da imprensa, o jogo foi amplamente celebrado nas redes sociais por autoridades e figuras públicas locais.
O evento social e político falou mais alto que o objetivo de salvar vidas. Isso é, literalmente, demagogia. Para o espetáculo, houve holofotes e curtidas aos milhares; para a saúde, silêncio e apenas 286 exames.
Essa realidade nos obriga a refletir: em qual Americana vivemos? Uma cidade onde a vida e a prevenção não são pauta prioritária, mas onde o entretenimento mobiliza discursos e curtidas. E, mais importante, em qual Americana queremos viver? Uma cidade que valoriza a saúde pública, que transforma campanhas preventivas em movimentos coletivos, que entende que salvar vidas é mais urgente do que ganhar visibilidade.
O Novembro Azul não é apenas uma data simbólica. É um chamado à responsabilidade. É a oportunidade de transformar a cultura da prevenção em prática cotidiana. Para isso, é preciso que lideranças políticas e sociais assumam seu papel de influenciadores de comportamento, que a imprensa local dê visibilidade às iniciativas de saúde, e que cada cidadão compreenda que cuidar de si é também cuidar da cidade.
No placar atual, a saúde perdeu de lavada. Mas ainda há tempo de virar o jogo.
Para refletir:
“Os hipócritas Amam o Amor. Gente de verdade ama a vida e o ser.”
Jorge Ramos Jornalista, comentarista político, articulista e cronista, consultor financeiro e securitário, graduado em Administração/Gestão Pública e pós-graduado em Direito Constitucional
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