
Quando o mandato vira performance, e o vereador acredita que postar cortes de fala e artes estilizadas é sinônimo de trabalho. Uma crítica ácida à política decorativa de Americana
Por Jorge Ramos
Na Câmara Municipal de Americana, o jogo político parece mais uma peça de teatro mal ensaiada. São 19 vereadores, mas quem realmente atua com seriedade cabe em uma Kombi — e ainda sobra lugar. Existem raras exceções, é verdade. Mas a grande maioria vive um mandato de pseudo poder, embalado em vaidade, que leva de nada a lugar nenhum — a não ser dar lustro no brilho de quem não tem.
O Mandato Cerimonial
Para muitos, ser vereador virou um cargo decorativo. O expediente se resume a parabenizar fulano por isso ou por aquilo, conceder títulos de cidadão, nomear ruas e praças, e aprovar tudo que vem do Executivo com a docilidade de quem não quer atrapalhar o cafezinho. Questionar? Debater? Fiscalizar? Só se for para fazer pose em vídeo.
A Política da Aparência
E o mais curioso: muitos acreditam de verdade que estão trabalhando. Publicam cortes das falas mais impactantes durante a sessão — cuidadosamente editadas para parecerem épicas — ou postam artes estilizadas nas redes sociais com frases de efeito e emojis patrióticos. Isso pode até enganar alguns, mas jamais engana a si próprio. Porque no fundo, entre um post e outro, a consciência sabe quando se está brincando de ser de verdade.
A Política do Cappuccino
De vez em quando, alguns bradam contra a falta de água, a ausência de exames, o caos na saúde. Mas tudo se resolve — ou se dissolve — com um cappuccino bem quente na Avenida Brasil, nº 83. É ali, entre um gole e outro, que o momento de lucidez bate à porta do próprio edil:
“Para que eu sirvo? O que eu sou?”
E é aí que a coisa pega. Porque você pode enganar os outros, pode até se enganar por um tempo. Mas quando você se encontra com você mesmo — sem plateia, sem likes, sem assessoria — é aí que a verdade se apresenta. E ela não aceita desculpas.
O Mandato de Quem Pensa
Enquanto isso, os poucos que trabalham de verdade seguem enfrentando a máquina, propondo, fiscalizando, ouvindo a população. São esses que sustentam, com esforço diário, a esperança de que a política local pode ser mais do que um desfile de vaidades.
Viva a Republiqueta Democrática de Americana
E assim segue a nossa republiqueta democrática, onde o mandato é muitas vezes um espelho de vaidade, e o povo, um espectador paciente. Mas há quem observe, quem escreva, quem questione. E enquanto houver voz crítica, há esperança.
Jorge Ramos é jornalista, articulista e cronista. Comentarista político, consultor financeiro e securitário, graduado em Administração com ênfase em Gestão Pública e pós-graduado em Direito Constitucional.
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