Como a militância universitária transformou o contraditório em ameaça e a democracia em monopólio ideológico.
Vivemos tempos em que o contraditório virou artigo de luxo — ou pior, um incômodo. A nova geração da militância progressista brasileira, embriagada por hashtags e likes, acredita que democracia é sinônimo de eco: só vale o que confirma suas certezas. O resto? “Discurso de ódio”. “Fascismo”. “Desinformação”. A cartilha é previsível, o verniz é acadêmico, mas o conteúdo é autoritário.
Essa turma, que se diz defensora da pluralidade, não suporta o dissenso. Basta alguém questionar o dogma do momento — seja sobre economia, costumes ou política — e o linchamento moral começa. Não há debate, há cancelamento. Não há argumento, há rótulo. E tudo isso, ironicamente, em nome da “democracia”.
O mais trágico? Muitos desses jovens não sabem o que é viver sob um regime que realmente censura. Confundem contraditório com ameaça. Acham que liberdade de expressão é só para quem pensa igual. E assim, com ares de superioridade moral, vão empurrando o país para um abismo de intolerância disfarçada de virtude.
A esquerda brasileira, que já teve nomes como Betinho, Darcy Ribeiro e Leonel Brizola, hoje se vê representada por influenciadores de TikTok e doutores em lacração. Trocaram o povo pela bolha, a rua pelo feed, o projeto de país por slogans vazios.
E o resultado está aí: uma geração confusa, perdida, que grita por democracia enquanto fecha os ouvidos para qualquer voz dissonante. Uma militância que se diz progressista, mas age como inquisidora. Que se diz libertária, mas sonha com censura seletiva.
Se essa é a vanguarda do pensamento político brasileiro, estamos diante de um retrocesso com filtro de Instagram.
Jorge Ramos é Jornalista, Comentarista Político, Articulista e Cronista, Consultor Financeiro e Securitário. Graduado em Administração/Gestão Pública e Pós-Graduado em Direito Constitucional.
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