Editorial: Ou se tem anistia — ou se assume a farsa

Por Jorge Ramos

“Anistia sem anistia é bater palmas para bêbado dançar.” A frase, carregada de sarcasmo, descreve com precisão o teatro político que se desenrola diante dos olhos do Brasil. Mas o que está em jogo não é apenas a anistia — é a própria verdade sobre os fatos.

Desde os eventos de 8 de janeiro de 2023, a palavra “golpe” foi usada como rótulo definitivo, sem espaço para debate, sem abertura para questionamentos legítimos. Milhares de brasileiros foram enquadrados como golpistas, mesmo sem provas de envolvimento direto em qualquer ação violenta ou coordenada. A presunção de culpa virou regra, e a justiça, exceção.

Agora, os deputados que bradam pela anistia se dividem entre dois papéis: ou são inocentes, acreditando que estão promovendo justiça, ou são malandros, encenando um espetáculo para acalmar a opinião pública. Já há relatos de que o texto da anistia será “café com leite” — um projeto diluído, sem força, sem coragem. Ou seja, uma anistia sem anistia. Um teatro ensaiado para enganar justamente quem mais precisa dessa medida: os cidadãos que foram arrastados para um golpe de ficção, criado por setores da esquerda e chancelado por parte do STF.

O que se vê é um espetáculo de narrativas. A anistia, agora em discussão, parece mais uma peça mal ensaiada: não se sabe quem será perdoado, nem por quê. Enquanto isso, os verdadeiros responsáveis por manipular versões e silenciar vozes seguem impunes — e a plateia, confusa, continua aplaudindo.

Anistia, nesse contexto, soa como distração. Um gesto simbólico para encerrar um capítulo que nunca foi verdadeiramente aberto. E quando se bate palmas para o bêbado dançar, não se está celebrando — está se fingindo que tudo está sob controle, enquanto o descompasso se aprofunda.

Ou se tem anistia — real, ampla, justa — ou se assume de vez que tudo não passa de uma farsa. Porque a verdadeira reconciliação começa quando se permite que todos falem — inclusive aqueles que foram calados pela versão oficial.