
O salto de 6 para 20 milhões de beneficiários do Bolsa Família revela não uma conquista social, mas o aprofundamento da dependência, da irresponsabilidade fiscal e da incapacidade de promover um Brasil próspero.
Por Jorge Ramos/ Vai Vendo Brasil – Setembro de 2025
O Brasil chegou ao número simbólico — e alarmante — de 20 milhões de famílias dependentes do Bolsa Família. Isso mesmo: um em cada três brasileiros precisa de ajuda estatal para comer, vestir-se e sobreviver. E enquanto isso é celebrado por governos progressistas como um “triunfo da inclusão”, há quem veja nesse dado o retrato mais cruel da falência econômica e moral de um país que parou de produzir e passou a distribuir pobreza.
A escalada da dependência
A trajetória do programa revela muito mais do que números — revela o desmonte silencioso da autonomia social:
Ano | Famílias Beneficiadas | Contexto Político/Econômico |
---|---|---|
2003 | 6 milhões | Criação do Bolsa Família; foco na pobreza extrema |
2010 | 12 milhões | Expansão sob crescimento econômico moderado |
2014 | 14 milhões | Estagnação econômica começa a se instalar |
2020 | 19 milhões | Pandemia escancara vulnerabilidade estrutural |
2025 | 20 milhões | Reestruturação do programa e aumento da pobreza |
O que era para ser um trampolim social virou rede de contenção permanente. O Estado não apenas identificou mais pobres — ele produziu mais pobres.
A lógica invertida
A narrativa oficial é sedutora: “Estamos cuidando dos mais pobres.” Mas a realidade é outra:
Quanto mais pobres, mais votos? A expansão do programa garante popularidade, mas não resolve o problema
Distribuir é mais fácil que reformar. Em vez de investir em educação de qualidade, infraestrutura e empreendedorismo, o Estado prefere o atalho da transferência direta
A pobreza virou política de Estado. E não há plano de saída — apenas manutenção
Estratégia ou incompetência?
O crescimento da dependência pode ser resultado de duas forças igualmente preocupantes:
1. Estratégia política deliberada
A manutenção de milhões em situação de vulnerabilidade garante controle eleitoral e fidelidade política
A pobreza é instrumentalizada como ativo político, não como problema a ser resolvido
O Estado se torna provedor absoluto, e o cidadão, eternamente grato — e dependente
2. Incapacidade de promover prosperidade
Falta de visão estratégica para gerar empregos, estimular inovação e fomentar empreendedorismo
Ausência de reformas estruturais que liberem o potencial produtivo do país
A máquina pública se especializou em assistir, não em emancipar
O custo da dependência
Em 2024, o Bolsa Família custou R$ 168 bilhões aos cofres públicos. Isso é mais do que o orçamento de ministérios inteiros. E o retorno?
Baixa mobilidade social
Economia estagnada
População anestesiada pela esmola institucionalizada
A maquiagem dos números: desemprego e invisibilidade
O governo comemora a queda do índice de desemprego — mas omite que milhões de brasileiros que recebem Bolsa Família não entram na conta. Isso porque, ao serem classificados como “inativos” ou fora da força de trabalho formal, são excluídos das estatísticas oficiais de desemprego.
Na prática, o país não tem menos desempregados — tem mais invisíveis.
Pessoas que vivem de benefícios sociais não são contabilizadas como desempregadas
A informalidade e o desalento crescem, mas não aparecem nos gráficos
O resultado é uma falsa sensação de recuperação, enquanto a dependência estatal se consolida
Gastos sem freio: o rombo da irresponsabilidade fiscal
Enquanto distribui bilhões em benefícios sociais, o governo federal ignora os limites da responsabilidade fiscal:
Estoura o teto de gastos, cria exceções e empurra reformas para o futuro
Aumenta a carga tributária, mas não melhora a qualidade dos serviços públicos
Multiplica ministérios, cargos e despesas, sem contrapartida em produtividade ou eficiência
O resultado é um Estado inchado, caro e ineficiente, que consome recursos sem gerar prosperidade. A conta chega — e quem paga é o cidadão comum, com inflação, juros altos e falta de oportunidades.
Estamos ficando mais pobres — e acomodados
O Brasil não está apenas mais pobre. Está mais conformado. A ideia de que o Estado deve sustentar milhões indefinidamente virou normal. E qualquer crítica é vista como insensível ou elitista. Mas a pergunta que não quer calar é: Esse é o país que queremos? Um país onde a glória está em distribuir migalhas, e não em criar oportunidades?
Não é avanço — é empobrecimento. Jorge Ramos é jornalista, articulista e cronista. Comentarista político, consultor financeiro e securitário, graduado em administração/gestão pública e pós-graduado em direito constitucional.
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