
Embates judiciais entre Lindbergh e Tarcísio refletem o agravamento da polarização entre esquerda e direita no Brasil, com impactos diretos nas instituições democráticas
Editorial:
O Brasil vive tempos em que o debate político ultrapassa as fronteiras do parlamento, ganhando cada vez mais corpo nas redes sociais, nas ruas e, de forma notável, nos tribunais. A recente iniciativa do deputado Lindbergh Farias (PT) ao acionar o STF contra o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) é mais um exemplo dessa dinâmica.
Segundo o parlamentar, Tarcísio teria tentado interceder junto ao Supremo para liberar uma viagem de Jair Bolsonaro aos Estados Unidos, cujo passaporte está retido por conta de processos que investigam tentativa de golpe. A missão internacional teria como objetivo negociar com Donald Trump a reversão de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros.
A acusação é grave, mas ainda preliminar. A Procuradoria-Geral da República decidirá se há fundamento para levar a ação adiante. Tarcísio nega qualquer envolvimento, enquanto Lindbergh defende que fiscalizar autoridades é um dever democrático.
O que se observa aqui, mais do que uma disputa entre dois políticos, é o reflexo de uma polarização que transformou o Judiciário em arena de embates ideológicos. A esquerda aponta supostos abusos de poder por parte da direita, enquanto esta acusa seus adversários de judicializar a política para vencer o que não conquistam de forma democrática. É o clássico “eles contra nós”, onde a busca pela verdade dá lugar à narrativa conveniente.
Nesse contexto, o Supremo Tribunal Federal passa a desempenhar um papel dúbio: árbitro institucional e alvo político. Há quem veja na judicialização um uso legítimo dos mecanismos de controle, e há quem aponte para um risco de banalização, em que denúncias infundadas servem mais à estratégia de desgaste do que à justiça.
A democracia, por sua vez, respira entre os extremos. O debate saudável cede espaço à retórica de confronto. O cidadão comum, perdido entre hashtags e manchetes, vê esvaziar-se o espaço do diálogo. O Congresso torna-se vilão para uns, cúmplice para outros. E assim, aos poucos, a política vai deixando de ser a arte da negociação para se tornar o palco da guerra.
O editorial de hoje não escolhe lados. Escolhe, sim, reafirmar a importância das instituições e da responsabilidade de seus agentes. Que se investigue, que se esclareça — mas que não se abuse. Porque enquanto os atores disputam protagonismo, a democracia corre o risco de perder o papel principal.
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