
Parlamentares como Erika Hilton, Boulos e Quaquá defendem o rompimento com Israel, mas proposta revela imprudência estratégica e discurso ideológico desconectado da realidade brasileira.
Por Jorge Ramos
As tensões no Oriente Médio despertam reações emocionadas — compreensíveis diante de um cenário trágico. Mas há uma diferença abismal entre solidariedade humanitária e decisões precipitadas no campo diplomático. Falar em romper relações com Israel, como têm sugerido vozes influentes do Congresso Nacional, é mais do que um gesto simbólico: é uma ação de alto risco, com impactos profundos na política externa e na economia brasileira.
Israel é um parceiro comercial e tecnológico estratégico para o Brasil. Do agronegócio à segurança, passando por inovação, saúde e defesa, as trocas bilaterais envolvem bilhões de dólares anuais. O país é referência mundial em irrigação inteligente — tecnologia aplicada hoje no cerrado brasileiro — e exportador de soluções em cibersegurança e inteligência artificial.
Além disso, empresas israelenses geram empregos no Brasil e mantêm acordos de transferência tecnológica. Em um momento de desafios econômicos internos, seria insensato desarticular essa rede de cooperação apenas por razões ideológicas.
Infelizmente, a fala de alguns políticos — como Erika Hilton (PSOL-SP), Fernanda Melchionna (PSOL-RS), Guilherme Boulos (PSOL-SP), Henrique Vieira (PSOL-RJ), Luiza Erundina (PSOL-SP), Natália Bonavides (PT-RN), Washington Quaquá (PT-RJ) e outros — tem sido pautada mais pela emoção do que pela razão. Há quem sustente esse tipo de proposta com base em discursos inflamados, motivações ideológicas de fundo de quintal ou, pior, puro desconhecimento das consequências. Essa postura beira a desonestidade ideológica e fragiliza a credibilidade internacional do país.
A política externa brasileira sempre se pautou pelo equilíbrio, pelo diálogo e pela promoção da paz. Assumir uma postura de confronto e cancelamento não contribui para a resolução de conflitos internacionais — apenas isola o Brasil de mesas de negociação onde sua presença é historicamente valorizada.
Condenar ações militares desproporcionais, exigir respeito ao direito internacional humanitário e defender a vida de civis inocentes são posições legítimas e necessárias. Mas transformá-las em ruptura diplomática é abandonar o pragmatismo que deve orientar as relações entre Estados.
Se o Brasil quer influenciar, precisa estar presente. Romper é abdicar da possibilidade de contribuir.
Jorge Ramos é jornalista, comentarista político, articulista e cronista. Atua também como consultor nas áreas financeira e securitária. É graduado em Administração com habilitação em Gestão Pública e pós-graduado em Direito Constitucional.
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