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Crônica: 20,5% Na República Autônoma de Americanópolis d’Oeste

Cidade-Perefeita Crônica: 20,5% Na República Autônoma de Americanópolis d’Oeste

Os bastidores do aumento do IPTU, a dança dos vereadores e a fantasia da cidade perfeita.

Na República Autônoma de Americanópolis d’Oeste, onde os ipês florescem em sincronia com os discursos oficiais, mas a democracia às vezes murcha entre uma selfie e outra, deu-se uma cena digna de crônica fantástica — ou tragicômica.

O aumento do IPTU em exatos 20,5% chegou como vento quente num dia sem sombra: seco, rápido e inevitável. Foi anunciado entre panfletos coloridos e jingles otimistas, embalado pela célebre frase: “para o bem da cidade perfeita”. Mas, entre os corredores do palácio e as calçadas com crateras poéticas, havia quem não bebesse do suco de cenoura do otimismo institucional.

Eis que, na corte legislativa, dois vereadores — antigos escudeiros do saudoso Vovozinho Bondoso — resolveram desafinar a partitura. Um deles, convicto e destemido, votou “não!” ao reajuste, como um burrico que não pula penhascos mesmo sob ordem imperial. O outro, o nobre e tremelicante Paulus Juniurs, campeão das urnas e herdeiro de emojis palpiteiros, hesitou. Sentiu o olhar do povo e a pressão do trono. Acuado pelo dilema entre coragem e conveniência, escolheu obedecer… e tentou justificar o gesto envolto na névoa de “governabilidade”.

Mal se encerrara a sessão, vieram as retaliações: os assessores do rebelde sumiram como sombras ao meio-dia. Já Paulus permanecia intacto — mas algo em seu semblante tinha enrugado. Era o peso de se ver representando não o povo, mas a idealização palaciana de uma cidade perfeita que só existe dentro da bolha dos que governam com o fígado, moldados por elogios espelhados e aplaudidores profissionais.

A população se dividiu: houve quem aplaudisse a resistência com emojis inflamados e memes de feira. Outros, temendo represálias invisíveis — aquelas que silenciam ruas sem asfalto e fecham postinhos antes da hora — preferiram o conforto da mudez estratégica.

No alto trono, o ilustríssimo Sardellito Carcamano seguia sorrindo ao lado de gatinhos adotivos e postes recém-pintados. Mas por trás da lente oficial, sua lupa examinava minúcias de insubordinação. Sua filosofia era clara: quem não bate palma, desafina a dança.

E assim, enquanto cresciam obras, placas e marketing, murchava a chance do debate genuíno. No fim, quem ousou dizer “não” não foi lembrado por ter vencido — mas por ter resistido. E isso, meu caro leitor, já é ato de lirismo num palco dominado por cartilhas de obediência.

 

*** Trata-se de uma obra de ficção. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, cargos ou fatos da vida real terá sido mera coincidência.

— Jorge Ramos Jornalista, comentarista político, articulista, consultor financeiro e securitário, graduado em Administração/Gestão Pública e pós-graduado em Direito Constitucional


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