Artigo: Vereadores de Americana já esqueceram o que pensavam quando eram candidatos

Por Jorge Ramos

Em apenas um pouco mais de um mês de mandato, os novos vereadores de Americana já demonstram sinais de que estão mais interessados em fazer política para políticos do que em cumprir as promessas que os levaram ao poder. A expectativa da população era de que eles entrariam em pautas urgentes e relevantes, como o contrato da Santa Casa de Xavantes, o aumento das passagens de ônibus e a concessão/privatização do DAE. Além de projetos de relevância para melhorar a vida do cidadão. No entanto, o que se vê é uma atuação tímida e alinhada aos interesses do líder de governo, deixando de lado as demandas que realmente afetam o dia a dia dos cidadãos.

Dentre os vereadores, apenas a Prof. Juliana (PT) tem se destacado por seu trabalho de fiscalização dos atos do Executivo, especialmente em relação ao novo contrato da Santa Casa de Xavantes. Enquanto isso, o vereador Gualter (PDT) foi o único a levantar questões importantes, como o caso do aterro sanitário e a promessa da usina, que têm impactos significativos para o meio ambiente e a saúde pública. Vale destacar que as promessas feitas pelos concessionários do aterro sanitário, como a construção da usina de lixo, nunca saíram das apresentações de PowerPoint.

Outro tema que tem sido negligenciado é o aumento das passagens de ônibus. Nenhum dos vereadores parece disposto a revisar ou entender a concessão com a Sou Americana, empresa responsável pelo transporte público na cidade. E a Estapar empresa concessionária de estacionamento rotativo, que atua de forma arbitrária o tempo todo.  A falta de interesse em discutir esses assuntos deixa claro que a prioridade não está no bem-estar da população, mas sim em seguir as ordens do líder de governo, e atender os interesses de seus eleitores, só lembrando são e recebem para serem vereadores de mais de 245 mil habitantes. Vale destacar que, embora o aumento das passagens ainda não tenha ocorrido, declarações do prefeito em entrevistas já sinalizam o aumento do subsídio das passagens.

As visitas a secretários para pedidos de informação ou indicação são muito pouco do que se esperava. O que um vereador pode fazer é, constitucionalmente, fiscalizar o Executivo e não apenas acompanhar obras em andamento do Executivo. Por outro lado, visitas a secretários podem realmente fiscalizar se eles estão frequentando a cidade. Que o diga o secretário de saúde.

A concessão/privatização do DAE, que podem trazer mudanças profundas no abastecimento de água e esgoto da cidade, também tem sido ignorada. Em vez de debater temas relevantes, os vereadores preferem se envolver em discussões pouco produtivas, seguindo a agenda política estabelecida pelos que estão no poder. Em entrevistas, o prefeito tem mencionado a concessão/privatização não só do esgoto, mas também da água.

Na última sessão, ficou claro que o líder de governo é o maestro e todos os músicos acatam. Em suas expressões faciais, fica nítida a condução do que os vereadores vão votar. Após a votação, ele demonstra uma expressão de satisfação, como se tivesse ganhado um jogo, sem se importar que naquele espaço o que tem que ser discutido e, se eventualmente houver um ganhador, devem ser os interesses da população.

Um exemplo claro disso foi a votação do projeto de transparência do ex-vereador Dr. Daniel. Sob a batuta do líder de governo, o projeto foi derrubado, mesmo com a intervenção dos vereadores da base Pastor Miguel(PRD) e Marcos Caetano (PL). Este é mais um sinal preocupante de que as promessas de campanha estão sendo deixadas de lado em prol de interesses políticos.

É cedo para um julgamento definitivo, mas o panorama que se desenha é preocupante. A confiança depositada pelos eleitores parece estar sendo desmerecida, e o mandato caminha para ser mais do mesmo: política distante das reais necessidades da população. A esperança é que, com o passar do tempo, os vereadores se lembrem do motivo pelo qual foram eleitos e passem a atuar de forma mais alinhada aos interesses da cidade e de seus cidadãos, elevando o nível de qualidade do legislativo municipal.

Jorge Ramos é Jornalista, Comentarista Político, Consultor Financeiro e securitário, graduado em Administração/Gestão Pública e pós-graduado em Direito Constitucional.