
Diplomatas argentinos deixam a Venezuela após serem expulsos, junto com outros seis países, por acusar o chavismo de fraude
O Brasil assumiu nesta quinta-feira a representação diplomática da Argentina em Caracas e, com ela, a proteção de seis opositores venezuelanos que se refugiam na legação há quatro meses. Tanto o presidente argentino, Javier Milei, quanto a líder da oposição venezuelana, María Corina Machado, agradeceram publicamente ao brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva por esse gesto de enorme significado político em meio à crise na Venezuela após as eleições presidenciais de domingo. A entrega foi simbolizada pelo hasteamento da bandeira brasileira na residência do embaixador argentino em Caracas.
As autoridades chavistas expulsaram todos os diplomatas da Argentina e de outros seis países latino-americanos por expressarem suspeitas de fraude eleitoral ao declarar Nicolás Maduro o vencedor sem mostrar os registros de votação.Quatro dias após as eleições, as autoridades eleitorais da Venezuela ainda não apresentaram as atas que confirmariam a proclamada reeleição de Maduro, apesar das exigências dos Estados Unidos, Brasil, Colômbia, México e outros países, incluindo alguns que têm laços estreitos com o chavismo.
AGRADECIMIENTO A BRASIL
— Javier Milei (@JMilei) August 1, 2024
Agradezco enormemente la disposición de Brasil a hacerse cargo de la custodia de la Embajada argentina en Venezuela. También agradecemos la representación momentánea de los intereses de la República Argentina y sus ciudadanos allí.
Hoy el personal…
A decisão do Brasil, que também assumiu o cargo de representar o Peru, representa uma colaboração inesperada entre o presidente brasileiro de esquerda e o presidente argentino de extrema-direita, que têm uma relação tensa e nunca se encontraram.
O presidente Milei ficou muito satisfeito com a resolução de um quebra-cabeça para o qual eles fizeram intensos esforços diplomáticos. “Aprecio muito a disposição do Brasil em assumir a custódia da Embaixada da Argentina na Venezuela”, disse ele no X (antigo Twitter).
O presidente ultraliberal também agradeceu ao país vizinho pela “representação momentânea” dos interesses da Argentina e de seus cidadãos na Venezuela, expressando confiança de que poderão reabri-la em breve “em uma Venezuela livre e democrática”.
A decisão de Lula de aceitar o pedido de Milei também pode ser interpretada como uma mensagem a Maduro, mais uma reviravolta na pressão internacional para tornar públicas as atas de cada seção eleitoral. O Brasil mantém um diálogo direto com todos os envolvidos na crise, incluindo os dois homens que se proclamaram vencedores, Maduro e Edmundo González Urrutia, o escolhido por Machado para derrotar o chavismo nas urnas.
Os seis opositores venezuelanos que estão asiloados na Embaixada da Argentina em Caracas são colaboradores próximos da oposição Machado e trabalham em sua campanha. Eles buscaram refúgio na sede diplomática em 20 de março e, desde então, tentaram em vão obter um salvo-conduto que lhes permitisse uma saída segura do país.
El Embajador de Brasil ante la OEA, @BenoniBelli, reafirmó el principio fundamental de la soberanía popular que debió ser observada mediante la verificación de los resultados en las actas y reitera que esperan la publicación por parte del CNE de los datos desglosados por mesa…
— María Corina Machado (@MariaCorinaYA) August 1, 2024
Um deles, Pedro Urruchurtu Noselli, responsável pelas relações internacionais da campanha de Machado, narrou nos últimos dias através das redes sociais o cerco da legação argentina pelas forças chavistas. Urruchurtu Noselli pediu várias vezes aos venezuelanos que fossem lá por medo de um possível ataque policial e denunciou o corte de energia.
Nesta quinta-feira, o referido adversário compartilhou uma foto do hasteamento da bandeira brasileira na Embaixada da Argentina. Claudia Macero, Mottola Magalí Meda, Fernando Martínez, Humberto Villalobos e Omar González estão com ele.
Milei deixou de lado as grandes diferenças que mantém com seu homólogo brasileiro para destacar, em vez disso, a proximidade entre os dois países: “Os laços de amizade que unem a Argentina ao Brasil são muito fortes e históricos”. Suas palavras vêm menos de um mês depois de ignorar o presidente Lula em sua primeira visita ao Brasil, que consistiu em participar de um evento ultra com o ex-presidente e aliado Jair Bolsonaro logo após cancelar sua presença em uma cúpula do Mercosul.
*Por: Mar Centenera / Naiara Galarraga Gortázar|Buenos Aires / São Paulo|
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