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Dúvidas sobre se o chavismo aceitaria uma derrota mantêm a oposição na Venezuela em compasso de espera

Maduro Dúvidas sobre se o chavismo aceitaria uma derrota mantêm a oposição na Venezuela em compasso de espera
Nicolás Maduro en un mitin en Caracas, el pasado 1 de mayo. / EL PAÌS PALACIO DE MIRAFLORES (EFE)

O governo de Maduro enviou mensagens confusas ao se referir a um cenário em que Edmundo González vence as eleições presidenciais de 28 de julho

Ninguém sabe ao certo como será o amanhecer na Venezuela em 29 de julho, um dia após as eleições presidenciais. O candidato de consenso da oposição, Edmundo González Urrutia, pontua nas pesquisas mais confiáveis acima do atual presidente, Nicolás Maduro. Em condições normais, a transferência de poder entre um presidente cessante e um novo presidente seria uma mera formalidade institucional, mas no contexto em que a Venezuela se encontra é uma incógnita. A oposição vê uma clara oportunidade de mudança no país após 25 anos de chavismo e quase certa sua vitória. Ao mesmo tempo, eles se perguntam se a revolução bolivariana, que agora controla todas as alavancas do Estado, aceitaria uma derrota e deixaria alguém que não fosse Maduro entrar pela porta do Palácio de Miraflores, sede do governo, em janeiro do ano que vem.

Edmundo González recebeu quase todo o capital político de María Corina Machado, a líder da oposição vetada eleitoralmente pelo partido no poder. Machado está atualmente em turnê pelo país promovendo o nome de González, que até recentemente era um diplomata desconhecido que passou a vida inteira na sala dos fundos do poder. O candidato repete na campanha que executará uma transição ordenada, sem traumas ou vinganças. Espalha-se na oposição a ideia de que é preciso facilitar uma saída para o chavismo, que teme que, quando deixar a presidência, possa investigar isso há um quarto de século. O próprio Maduro está sujeito a uma recompensa de 15 milhões de dólares oferecida pela DEA americana.

Presidentes de outros países, como o colombiano Gustavo Petro ou o brasileiro Lula da Silva, promoveram, sem sucesso até agora, a assinatura de um acordo político que dá o tom para os dias seguintes à votação. Nos acordos de Barbados, assinados no final de 2023, a vontade de que o resultado eleitoral fosse respeitado foi deixada por escrito. No entanto, há muitas vozes que exigem que nestes 11 dias restantes González Urrutia e Maduro se sentem à mesma mesa e assinem um compromisso de aceitar resultados. Na realidade, todos os esforços estão concentrados em uma coisa: que o chavismo, se ocorrer, aceitará a derrota e facilitará uma transição.

Maduro e sua comitiva emitiram sinais contraditórios. O presidente insiste nestes dias de campanha que representa a “paz”, como se na Venezuela houvesse um conflito com atores armados como no caso da Colômbia. Em discurso dirigido a alguns policiais nesta terça-feira, o presidente disse: “A extrema direita, em seu desespero, porque está perdida, (…) querem procurar uma tragédia, uma hecatombe.” Em um vídeo de dias atrás, na fronteira, ele diz que está preparado para evitar “uma invasão” nas fronteiras do país, sem especificar quem realizaria o ataque. Embora o chavismo tenha controle policial, militar e de inteligência, ele se estabeleceu na narrativa de que está enfrentando poderes superiores desestabilizadores. O vice-presidente do PSUV – o partido oficial -, Diosdado Cabello, disse esta terça-feira num evento: “Chega de ódio, senhores da extrema-direita; chega de estupidez política, a Venezuela quer viver em paz.” Durante anos, Cabello apresentou um programa de televisão chamado Con el mazo dando, no qual ataca os adversários com palavras duras e ataca qualquer pessoa que tenha uma opinião sobre a Venezuela, como o chanceler colombiano, Luis Gilberto Murillo, que disse esperar que eleições justas e livres ocorram.

Semanas atrás, Vladimir Padrino, ministro da Defesa, garantiu que a revolução continuará “não importa o que aconteça”. No entanto, Freddy Bernal, governador do Estado de Táchira, deu uma entrevista ao Primera Página em que disse algo que surpreendeu a muitos: “Todas as vezes que perdemos entregamos; no caso de perdermos, de que isso não vai acontecer, não tenham a menor dúvida sobre o espírito democrático do presidente Nicolás Maduro e de nós”. Essas palavras de um dos políticos mais próximos de Maduro se espalharam como fogo em mensagens de WhatsApp. Elas foram lidas como uma porta para o chavismo aceitar uma possível derrota nas urnas. “Se a vitória de Edmundo González é anunciada, é porque (o partido no poder) decidiu deixar o poder. Depois fica com todas as demais instituições em mãos e seis meses com o Executivo para negociações”, explica Félix Seijas, da empresa de sondagens Delphos.

Para ele, está claro que Maduro não quer deixar o poder. “Mas se a vitória de Edmundo for anunciada, significa que ele não tinha outra alternativa a um custo menor”, acrescenta. Por outro lado, Antonio Ecarri, candidato presidencial da oposição que não se juntou a González, acredita que o chavismo está preparado para desalojar a presidência. Na verdade, ele considera que o debate é outro: “O problema é a governabilidade. O melhor favor que pode ser feito a Maduro é que ele seja sucedido por um governo fraco. A Venezuela deve se abrir a pactos estatais.” Essa corrente de opinião ganha força nos dias de hoje: partidos de todos os espectros, segundo esse pressuposto, devem governar juntos, e até incluir alguns setores do chavismo.

Para Elías Pino, historiador e ex-diretor da Academia Nacional de História da Venezuela, a situação pegou o topo do governo de surpresa: “O regime foi dominado pelos acontecimentos. Ele não esperava uma resposta tão massiva e contundente da sociedade, diante da qual ainda não dá sinais de um movimento enfático. Ataca situações específicas à medida que se desenvolvem, sem mostrar vontade de acabar com o processo de uma vez por todas. Eles foram tarde demais para chutar a mesa, tarde demais, e agora esse chute será muito caro.” Refere-se, sem verbalizar, a uma suspensão das eleições, possibilidade que continua no ar até hoje. No passado, Maduro disse que não haveria eleições livres se a Venezuela não fosse “livre de sanções“.

O tempo está se esgotando. O politólogo João Madaleno sublinha que o partido no poder está numa situação limite – a possibilidade real de perder nas urnas – e que parece ter pouca margem de manobra. “Especialmente se o resultado final sugerir uma diferença de mais de 10 pontos percentuais a favor da oposição. As sondagens mais recentes e credíveis apontam a diferença de intenção de voto entre 25 e 27 pontos percentuais à frente de González Urrutia. Mas, atenção, os atores políticos nem sempre se comportam “racionalmente”, se entendermos por tal adequação de meios a fins. Vamos ver o que acontece”, conclui.

*Por Juan Diego Quesada/ EL PAÍS


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